Reforma Tributária e o Futuro das Holdings
Lições da Nobreza Veneziana para o Empresário Moderno
Leonardo Barbosa Sousa
5/2/20255 min read


Em um cenário de transformação tributária sem precedentes no Brasil, empresários e investidores, incluindo aqueles do ecossistema digital e criadores de conteúdo, enfrentam um novo paradigma na estruturação de seus negócios e patrimônio. A recente reforma tributária, com a introdução da PEC 45/2019, traz mudanças significativas que impactarão diretamente as holdings familiares e patrimoniais, ferramentas amplamente utilizadas para proteção patrimonial e planejamento sucessório por empreendedores de diversos setores.
As Holdings e a Tradição de Preservação Patrimonial
Assim como as poderosas famílias mercantis de Veneza nos séculos XV e XVI criaram estruturas jurídicas sofisticadas para preservar seu patrimônio e influência comercial, o empresariado brasileiro tem utilizado as holdings como instrumento de organização societária e proteção de ativos. A República de Veneza, com seu sistema de "fraterna compagnia" (companhias familiares), estabeleceu mecanismos para que o patrimônio familiar permanecesse indivisível através de gerações, permitindo que dinastias como os Contarini e Morosini mantivessem seu poder econômico por séculos, mesmo em tempos de instabilidade política.
No entanto, assim como o declínio da influência veneziana coincidiu com mudanças tributárias e comerciais no Mediterrâneo, nosso atual sistema de holdings enfrenta uma reformulação motivada pela modernização do sistema tributário brasileiro, afetando tanto empresas tradicionais quanto empreendimentos digitais e criadores de conteúdo que já adotaram estas estruturas.
Os Impactos da Reforma nas Holdings
A reforma tributária traz mudanças estruturais que afetarão diretamente as holdings em diversos aspectos:
Unificação dos tributos sobre consumo: A criação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e da CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) substituirá cinco tributos existentes, alterando a dinâmica de créditos tributários e impactando o fluxo de caixa das empresas operacionais dentro dos grupos empresariais, incluindo negócios de diversos setores, desde a indústria tradicional até plataformas digitais e de conteúdo.
Tratamento de dividendos: Possíveis alterações na tributação de dividendos poderão transformar radicalmente o modelo de distribuição de lucros entre holdings e empresas operacionais, afetando o planejamento financeiro de empreendedores e investidores de todos os mercados.
Integração patrimonial e societária: A reforma prevê mudanças na tributação de transferências patrimoniais, impactando reorganizações societárias e sucessão empresarial, questões cruciais tanto para empresas tradicionais quanto para negócios digitais em crescimento.
Ativos tangíveis e intangíveis: Novas regras para tributação de rendimentos e ganhos de capital sobre diversos tipos de ativos - desde imóveis até propriedade intelectual e ativos digitais - frequentemente mantidos em holdings patrimoniais.
A Dor das Disputas Societárias Amplificada
Um dos maiores riscos neste novo cenário é o potencial aumento de conflitos entre sócios. Historicamente, momentos de transição regulatória elevam as tensões societárias, especialmente em empresas com múltiplos stakeholders. Na Itália renascentista, a família Medici enfrentou disputas internas devastadoras durante as reformas econômicas de Florença, que só foram mitigadas pela existência de acordos societários robustos e mecanismos claros de governança.
No contexto atual, a reforma tributária pode expor fragilidades em pactos societários existentes, especialmente quando os interesses patrimoniais individuais e as estratégias fiscais conflitarem diante das novas regras. Holdings sem governança clara ou com estruturas simplificadas correm o risco de ver emergir disputas antes latentes - um problema cada vez mais comum tanto em empresas tradicionais quanto em negócios digitais em rápido crescimento, onde a estruturação societária muitas vezes não acompanha a velocidade da expansão do negócio.
Desalinhamento Entre Interesses Pessoais e Estratégia do Negócio
Outro ponto crítico amplificado pela reforma é o desalinhamento entre a administração do negócio e os interesses dos diversos stakeholders envolvidos. Na Espanha do século XVIII, as reformas bourbônicas de tributação criaram uma divisão entre famílias aristocráticas que conseguiram adaptar suas estruturas patrimoniais e aquelas que, por falta de planejamento integrado, perderam relevância econômica.
Da mesma forma, a atual reforma exigirá alinhamento entre a gestão operacional das empresas e suas estruturas societárias. A mudança na tributação do consumo e possíveis alterações no imposto de renda exigirão decisões estratégicas unificadas, difíceis de obter em grupos empresariais sem governança adequada. Este desafio é particularmente relevante para empreendedores digitais e criadores de conteúdo, que muitas vezes expandem seus negócios rapidamente através de parcerias estratégicas e monetização de audiência sem a devida estruturação societária.
O Caminho para a Segurança Patrimonial
Diante deste cenário, três elementos se tornam fundamentais para navegação segura nesse novo ambiente regulatório:
Revisão das estruturas societárias: Avaliar a eficiência das holdings existentes frente às novas regras, considerando aspectos como tributação de dividendos, operações intragrupo e custos de conformidade. Empreendedores digitais, que frequentemente estruturam seus negócios com rapidez, precisam especialmente atentar para esta revisão.
Governança corporativa robusta: Implementar mecanismos de decisão que permitam agilidade estratégica sem comprometer os interesses dos diversos stakeholders. Este ponto é crucial para empresas em rápido crescimento e negócios digitais com múltiplos sócios ou investidores.
Planejamento sucessório adaptativo: Desenvolver estruturas sucessórias que se mantenham eficientes mesmo com alterações tributárias, focando na preservação de valor e na continuidade empresarial. Para empreendedores de plataformas digitais e criadores de conteúdo, este planejamento deve incluir a proteção de propriedade intelectual e ativos intangíveis.
A Governança como Solução Perene
Assim como as famílias venezianas que sobreviveram às mudanças geopolíticas do século XVII foram aquelas com estruturas de governança mais sofisticadas, os grupos empresariais que prosperarão após a reforma tributária serão os que implementarem uma governança especializada e adaptável.
A experiência histórica nos ensina que mais importante que estruturas societárias específicas é a capacidade de adaptação governativa. Uma governança corporativa eficiente proporciona:
Maior segurança e previsibilidade na gestão de negócios e patrimônio, mesmo em cenários de mudança regulatória
Organização societária eficiente, que previne litígios e conflitos mesmo quando interesses divergentes emergem
Redução de riscos tributários e judiciais através de monitoramento contínuo e conformidade proativa
Proteção de ativos tangíveis e intangíveis com estruturas jurídicas adequadas ao novo cenário tributário, particularmente relevante para empresas com forte presença digital e propriedade intelectual significativa
Os ventos da reforma tributária sopram forte sobre as estruturas empresariais brasileiras. Aqueles que, como os experientes mercadores venezianos, souberem adaptar suas velas governativas navegarão com segurança por essas águas desafiadoras, preservando não apenas seu patrimônio, mas também seu legado para as gerações futuras - seja ele um negócio tradicional ou uma plataforma digital inovadora.

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